segunda-feira, 22 de março de 2010

O legado dos índios argentinos submerso nas águas do rio Paraná

Fonte: Yahoo
La Paz (Argentina), 22 mar (EFE).- O abundante rio Paraná oculta sob suas águas dezenas de ilhas onde habitavam até finais do século XIX as tribos indígenas argentinas chaná e timbu, cujo prezado patrimônio artesanal é no momento praticamente inacessível com o alto nível do rio.
Cerca de 10 mil índios chaná e timbu chegaram a viver nas ilhas do delta do Paraná, no norte da Argentina, onde praticavam a caça e a pesca e elaboravam detalhadas peças artesanais.
Diversos cemitérios onde enterravam e homenageavam seus entes queridos são o único rastro que perdura até hoje, embora sob as águas desses povos nativos, explicou à Agência Efe María Asunción Gotardo, diretora do Museu Regional da cidade argentina de La Paz, que abriga uma coleção de peças artesanais indígenas.
A pequena cidade de La Paz, na qual residem cerca de 25 mil pessoas, é a mais próxima às ilhas e também a mais afetada pelo forte fluxo das águas do Paraná, que cobre totalmente os cemitérios indígenas.
Gotardo se mostra confiante que o nível do Paraná em breve diminua, o que permitiria às equipes de arqueólogos retomar as escavações nos cemitérios. Em suas inspeções anteriores, os especialistas encontraram fragmentos de peças de cerâmica e a múmia de uma jovem índia.
A coleção do Museu Regional de La Paz inclui uma urna utilizada para enterrar bebês, assim como dezenas de peças de vasos e panelas de barro e argila.
As alças desses utensílios têm formatos de cabeça de papagaio, cobra e coruja, o que, segundo Gotardo, demonstra a riqueza cultural dos chaná e dos timbu, que foram os "primeiros artesãos" da região de Entre Ríos, onde se encontra La Paz, fundada em 1835 e localizada a 520 quilômetros ao norte de Buenos Aires.
O museu possui também um mapa desenhado em 1749 pelo pai jesuíta José Quiroga no qual há detalhes sobre todos as moradias indígenas do litoral do trecho argentino do Paraná, um rio de mais de 4,5 mil quilômetros de extensão que nasce no interior brasileiro, demarca a fronteira Brasil-Paraguai e segue para a Argentina.
O forte nível do Paraná desloca continuamente os restos mortais dos cemitérios, encontrados frequentemente por pescadores ou velejadores, que costumam comercializar essas peças históricas, denunciou Gotardo.
Além disso, a diretora do museu lamenta o pouco apoio público, tanto do Governo federal como do regional, na recuperação dos restos mortais desses povos nativos.
Os povos chaná e timbu se organizavam em famílias poligâmicas, costumavam usar colares feitos com caracóis e perfuravam o nariz, descreveu Gotardo.
Os especialistas consideram que esses grupos indígenas praticavam a caça e a pesca com armas, arcos e flechas de osso ou madeira, e cultivavam legumes da terra.
No final do século XIX, os chaná e os timbu foram expulsos das ilhas e começaram a desaparecer pela falta de terras e pelo contato com novas doenças.
Apesar de não haver registros oficiais, os especialistas estimam que ainda há descendentes desses povos indígenas na Argentina, onde estão registrados cerca de 6,5 mil guaranis.
O Museu Regional de La Paz é uma das escalas da expedição fluvial Paraná Ra'anga, um ambicioso projeto científico-cultural que começou no dia 12 passado na cidade argentina de Rosário e que terminará em Assunção no final do mês. EFE

segunda-feira, 15 de março de 2010

Guerra dos Museus

fonte: Folha On Line

Vazio em novo museu grego acirra debate sobre devolução de peças
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LUCIANA COELHO
da Folha de S.Paulo, enviada especial a Atenas
FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo, em Londres

O enorme vazio no prédio de vidro estranhamente fincado no bairro turístico de Plaka, em Atenas, grita ao visitante uma mensagem pouco conceitual e muito política: os gregos querem suas peças de volta.
Querem tanto que ergueram ao pé das ruínas da Acrópole a enorme estrutura de metal, concreto e vidro assinada pelo suíço Bernard Tschumi. O efeito é de notório contraste com as casas modestas ao redor.
Os gregos passaram oito anos construindo um novo museu. Gastaram 130 milhões (cerca de R$ 315 milhões) e deixaram dois dos quatro andares praticamente pelados só para dizer que agora, sim, têm onde abrigar a coleção de mármores do Parthenon que lorde Elgin, então o embaixador britânico no Império Otomano, levou para Londres no século 19.
Desde 1816, a coleção que ficou conhecida como mármores de Elgin e que compreende quase todo o Parthenon --o templo que o imperador Péricles mandou erguer para a deusa Atenas no século 5 antes de Cristo-- está no British Museum. Atenas ficou com os frisos que ornavam a fachada.
Desde 1980, a Grécia requer o retorno das peças de Londres a Atenas. "Os britânicos sempre disseram que, se nos devolvessem as peças, nós não teríamos espaço apropriado. Hoje nós temos", diz à Folha Dimitrius Pandermalis, presidente do Novo Museu da Acrópoles.
Pandermalis contém o otimismo. "Agora o British Museum diz: "Ah, somos um museu universal, e sem as peças a coleção será incompleta"."
O diretor do British Museum, Neil McGregor, usou uma metáfora, durante uma aula aberta em Londres, para descrever a disputa: "Nós enxergamos nos objetos aquilo que queremos ver". Sobre o caso dos mármores, disse: "Uma nação inteira resolveu abraçar essas peças como algo fundamental para a identidade grega. É um exemplo em que se enxerga aquilo que se quer ver".
O museu de Atenas foi aberto no fim de junho do ano passado e ainda não funciona à plena força. Em oito meses, no entanto, recebeu estimados 1,6 milhão de visitantes.
Os 14 mil m² reservados para exibição, numa área total de 23 mil m², são dez vezes o museu anterior. Os argumentos gregos se estendem na arquitetura que impressiona, na curadoria precisa, na escolha pela luz natural, na vista panorâmica da Acrópoles, no sítio de escavação e nas lojas e restaurantes no padrão dos melhores museus dos EUA e da Europa.
Problema visível
A questão virou assunto de governos, numa negociação que mais parece um trabalho de Sísifo. Segundo Pandermalis, há hoje conversas no sentido de uma colaboração com o British Museum.
Como ela ocorreria --se com exibições rotativas ou posse compartilhada-- ele não esclarece. "O importante é que vamos debater isso de forma realista, para o bem de ambas as instituições."
Pelos corredores, a questão fica latente. A falta que as peças fazem, entre estátuas clássicas do século 5 a.C. e artefatos rústicos do século 7 a.C., é óbvia com o friso do Parthenon e uma e outra peça flutuando sem os pilares, esculturas e outras partes levadas a Londres. Mas, nos folhetos e placas informativas, nada há a respeito.
"Nosso visitante pode ver o problema muito claramente na disposição das peças, não é preciso ler um texto sobre isso", explica Pandermalis.
Em breve, talvez já no meio do ano, os sítios arqueológicos que por ora só podem ser avistados dos jardins e do hall principal, serão abertos à visitação.
A nuvem no horizonte é a megadívida grega, que botou o país em um regime de austeridade monitorado com coleira curta pela União Europeia. Com ingressos a 3, a maior parte da verba vem do governo grego, que terá de fazer cortes drásticos em seu orçamento pelos próximos três anos.
Pandermalis diz que o arrocho se faz sentir, e, por ora, o museu o tem contornado. Mas espera logo ter lucro suficiente nos restaurantes e lojas para cobrir mais de sua despesa. Antes que a crise bata.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Descoberto no Egito sarcófago de rainha desconhecida

Uma missão de arqueologia francesa descobriu, perto do Cairo, o sarcófago de uma rainha da sexta dinastia até agora desconhecida, anunciou nesta quarta-feira o serviço de antiguidades egípcias. Foto:/AFP
Uma missão de arqueologia francesa descobriu, perto do Cairo, o sarcófago de uma rainha da sexta dinastia até agora desconhecida, anunciou nesta quarta-feira o serviço de antiguidades egípcias. Foto:/AFP
CAIRO (AFP) - Uma missão de arqueologia francesa descobriu, perto do Cairo, o sarcófago de uma rainha da sexta dinastia até agora desconhecida, anunciou nesta quarta-feira o serviço de antiguidades egípcias.
Identificada como Bahnu, ela foi "uma das rainhas da VI dinastia, que reinou no Egito de 2.374 a 2.192 antes de Cristo. Mas, por enquanto, não sabemos se era esposa de Pepi I (2.354-2.310) ou de Pepi II (2.300-2.206) ", revelou, em comunicado, o chefe do Conselho Supremo de Antiguidades (CSA), Zahi Hawass.
Segundo Philippe Collombert, chefe da equipe francesa, se tratava "provavelmente" da esposa de Pepi II.
"Estamos contentes por acrescentar uma rainha até agora desconhecida à história do Egito", disse à AFP Collombert, que é diretor da missão arqueológica francesa de Saqqara e professor da Universidade de Genebra.
A missão fazia escavações na pirâmide que se revelou ser da rainha Bahnu, situada entre um grupo de pirâmides de rainhas, perto da do faraó Pepi I, ao sul da pirâmide escalonada de Saqqara, ao sul do Cairo.
A equipe descobriu o sarcófago de 2,6 metros de comprimento e um de altura na câmara funerária.
Em uma lateral do sarcófago, hieróglifos indicam que a rainha é "a esposa do rei e sua amada".
No entanto, a câmara sofreu alguns saques, provavelmente na época do "primeiro período intermediário" (por volta de 2.200 antes de Cristo).
No interior do sarcófago não há mais nada além de bandagens de linho que serviram para envolver a múmia de Banhu, pedaços de madeira, fragmentos ósseos e cacos de cerâmica.
Galal Muawad, inspetor de antiguidades que trabalhou com a equipe francesa, destacou que descobertas deste tipo são muito pouco frequentes.
"A raridade deste sarcófago (...) se deve ao fato de que o corpo principal é de granito rosa, enquanto a tampa é de basalto negro", disse.

Fonte: Yahoo Notícias